fonte: O Globo
por Alfredo Guarischi
O cargo de ministro da Saúde estará, em breve, vago. Graças a Deus!
A permanência no cargo foi em média de 20 meses nos últimos 50 anos, e o ministro que mais tempo permaneceu na função foi o médico Waldyr Arcoverde, por 65 meses, no governo do General Figueiredo. O médico Paulo Machado permaneceu, por 60 meses, no governo do General Geisel; o economista José Serra, por 47 meses, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso; o médico José Temporão, por 45 meses, no segundo governo Lula.
Com esse breve histórico, algumas perguntas exigem um posicionamento dos candidatos a presidente da República.
Continuarão as constantes mudanças no Ministério da Saúde, que é o responsável pelo maior orçamento entre todos os ministérios? O ministro será escolhido por estar na “cota” de um partido político? Continuarão os escândalos de corrupção e a volta de epidemias? E mais: o aparelhamento político, impostos extorsivos e renúncias fiscais, que geram prejuízos aos pacientes, profissionais da saúde e empresários?
Continuaremos a copiar o que há de pior do modelo americano, que permanece em último lugar quando comparado com o de Reino Unido, Austrália, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Alemanha, Canadá e França? Essa classificação, que permanece semelhante há décadas, considera o acesso da população ao sistema, seus custos e o resultado dos tratamentos. Os EUA contribuem muito para o progresso da medicina, mas adotam um modelo cruel para os pobres.
Por último, por que continuar o negócio da proliferação de faculdades de medicina de má qualidade e que enriquecem seus “sortudos” proprietários?
Há ausência de compromissos de longo prazo, nomeações políticas até para chefias técnicas, falta de um plano de carreira (como há no Judiciário), (des)organizações sociais — terceirização irregular de atividades-fim —, que trocam o corpo técnico seguidamente, e falta de concursos públicos para repor os servidores que se aposentam desestruturam o sistema de saúde. Não custa lembrar que é o sistema público o principal responsável pela vacinação, por emergências e transplantes de órgãos; que sarampo, hepatite e tuberculose não são evitados com perfumes caros; que uma carteira de plástico do plano de saúde nada vale num desastre; e que a fila em busca de um órgão é única e pública.
Mesmo quem critica o educador Paulo Freire há de concordar com sua afirmação de que “… a melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível fazer hoje é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito…”. Eu resumo isso como: o certo é certo, mesmo que poucos o façam, e o errado é errado, mesmo que a maioria aja desta forma.
O despreparo da gestão e a corrupção deterioraram nosso sistema de saúde, e o governo insiste em privatizar o público, sem regular o privado. Caberá ao novo presidente escolher e manter estável no posto um ministro preparado para a missão — comprometido com a saúde — e que saiba dialogar com a sociedade, independentemente do CEP, CNPJ ou CPF.